Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul
Em “Um Olhar Farroupilha – Guido Mondin Arte e História”
Ministério Público e Assembléia Legislativa - 2005
O GIGANTE DA TELA
“Falar de Guido Mondin pintor não é tarefa fácil, já que esse gigante das telas conquistou um lugar de destaque por suas obras admiradas e disputadas até no exterior. Conheci-o quando eu, ainda menino, e Mondin, em campanha política de deputado, esteve em Carlos Barbosa, onde eu residia com meus pais, aproveitando, inclusive, para visitar a sapataria de meu pai, que lhe dava apoio local, e que ficava junto à casa onde morávamos. Anos passaram, e ainda eu era deputado estadual e chefe da Casa Civil, fui convidado para assumir a presidência do Conselho Estadual de Escoteiros, e Mondin era o Presidente da União dos Escoteiros do Brasil. Com entusiasmo verdadeiramente juvenil, a despeito de sua idade, ele emprestava decisivo apoio ao escotismo, movimento internacional dos mais sadios, para o exercício da fraternidade cívica da juventude, sintetizada na saudação ‘Sempre alerta!’, com que os escoteiros se cumprimentam.
Depois quando me elegi deputado federal, com ele convivi, em Brasília, pude então conhecer toda sua bagagem cultural e política. Além de ter sido vice-prefeito de Caxias do Sul e deputado estadual constituinte em 1949, posteriormente elegeu-se para a Câmara dos Deputados, e, depois, duas vezes para Senador da República, por dezesseis anos. Em 1975, chegou ao Tribunal de Contas da União, presidindo-o em 1978. Aposentou-se ao completar 70 anos de idade, em 1982, passando a dedicar-se inteiramente ao que mais gostava de fazer: pintar. Era, além, disso, um homem muito espirituoso, extrovertido e de grandes qualidades intelectuais.
Como pintor, é autor de 4.200 telas espalhadas pelo mundo, conforme sua filha Talita, que reside em Brasília. Em muitas delas, expressa sua convicção religiosa e sua fé cristã, Além de coletânea que compõe o acervo cultural do Senado da República, se encontra exposta na Assembléia Legislativa do Estado, uma exclusiva sobre a História da Revolução Farroupilha. O Legislativo gaúcho, querendo dar maior destaque a essa coleção, em 2003, inaugurou uma galeria no acesso ao Gabinete da Presidência, onde podem ser admiradas essas obras, que relembram os principais heróis e momentos da Sega Farroupilha, da qual estamos, agora, comemorando 170 anos.
Ele também pintou para as Igrejas de Otávio Rocha, em Flores da Cunha, na região italiana, e São Geraldo, em Porto Alegre, belas vias sacras, reproduzindo com rara transparência as cenas da paixão de Cristo. Mas, as telas de Guido Mondin fazem sucesso até no exterior, onde as encontramos inclusive na Casa Branca, em Washington; no Uruguai e em vários países da Europa.
Ao deixar o TCU, ele retornou a Caxias do Sul e à região, lá ficando algum tempo, para rever paisagens e pintar quadros com a temática regional. Num vernisage, em Caxias, a seu convite, lá estive para escolher alguns quadros. Entre os que comprei, destaco o do Retorno de Nanetto Pipetta, personagem criado pelo Frei Paulino, de um imigrante italiano que veio ao Brasil para ‘fazer a América’.
Sua história começou a ser publicada em dialeto italiano, na década de 20, na “Stafeta Riograndense”, hoje “Correio Riograndense”, semanário dos Padres Capuchinhos. A conselho do Provincial, o frei deixou de publicar essa história, pois entendeu seu superior que era pouco edificante para os jovens. Daí, no último capítulo, Nanetto Pipetta foi pescar no rio Caí e seu anzol ficou preso numa pedra. Ao querer libertá-lo, pisou num buraco e se afogou. Guido Mondin, porém, ao constatar que Nanetto Pipetta estava ainda bem vivo na memória do povo, e, à época de sua pesquisa, estava em cena uma peça teatral sobre o herói, resolveu pintar a volta de Nanetto Pipetta, pois entendeu que continuava vivo, ao menos, na cultura local. Colocou-o, então, ao lado do Frei Paulino, ‘seu criador’, com uma corda passando pelo ombro, querendo significar que não havia se afogado no rio, mas na hora que isso estava por acontecer, a mão salvadora de um amigo lhe lançara uma corda com a qual sobreviveu.
No Tribunal de Contas do Estado, existem duas telas de Guido Mondin, muito expressivas e que, de certa forma, complementam a coletânea da Saga Farroupilha do Legislativo. Uma delas é a ‘Carga Farrapa’, e a outra, no gabinete da presidência, reproduzindo uma paisagem do pampa gaúcho: ‘Meu Rio Grande Amado’. Dada minha ligação com Mondin, quando cheguei ao Tribunal, vi essas duas telas e, ao lançar a Revista do Planejamento Estratégico, que inclusive fundamentou a Certificação de Qualidade ISSO 9001:2000, obtida pela nossa Corte de Contas com aprovação de meus pares, utilizamos na capa a pintura da ‘Carga Farrapa’. Tal foi a receptividade que, num segundo momento, decidimos transformar a sua réplica numa honraria que o Tribunal concede a quem se destacou na prestação de serviços na gestão pública. Já distribuímos essa honraria a personalidades estaduais, nacionais e estrangeiras.
Muito e muito ainda se poderia escrever sobre Guido Mondin, sua personalidade política – marcada sempre pela honradez e ética, desde vice-prefeito de Caxias do Sul, deputado estadual constituinte, deputado federal, senador e, depois, como ministro-presidente do Tribunal de Contas da União -, e sua sensibilidade artística na expressão de seus quadros e telas. Falecido em 20 de maio de 2000, Mondin foi filho de imigrantes italianos, cuja vinda dos pioneiros estamos comemorando 130 anos. Os seus quadros e telas, porém, falam bem mais alto que qualquer outra referência. Na medida em que são vistos, ele passa a ser admirado e reconhecido como um dos nossos grandes pintores contemporâneos, que honram o Rio Grande e o Brasil. Oportuna, portanto, a decisão do Procurador de Justiça, Dr. Ricardo Vaz Seelig, coordenador do Memorial do Ministério Público, e do Procurador-Geral de Justiça, Dr. Roberto Bandeira Pereira, em parceria com a Assembléia Legislativa, presidida pelo deputado Iradir Pietroski, de publicar a obra à qual estamos nos associando, comemorativa dos 170 anos da Revolução Farroupilha e do Poder Legislativo gaúcho, bem como dos 130 anos da Imigração italiana em nosso Estado, com ressonância plena não só entre os descendentes dos imigrantes italianos, mas em toda a comunidade rio-grandense.”
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