Fontes: Dicionário Histórico-biográfico pós-1930 – Rio de Janeiro
Ed. da Fundação Getúlio Vargas – CPDOC.2001
Enciclopédia Rio-grandense. Canoas: Ed. Regional, 1957.
GUIDO FERNANDO MONDIN nasceu em Porto Alegre, no dia 06 de maio de 1912. Era filho de Guido e Romana Ongaratto Mondin. Cursou o primário no Colégio São Luiz Batista de La Salle, em Porto Alegre. Diplomou-se contador pelo Instituto Comercial do Sindicato dos Empregados no Comércio, formando-se mais tarde em ciências Políticas e Econômicas pela PUC/RS. Cursou, ainda, o Instituto de Belas Artes. Participou da fundação da Associação de Artes Plásticas Francisco Lisboa, em Porto Alegre, no ano de 1938, juntamente com Carlos Alberto Pretrucci, Vasco Prado, Edgar Koetz e Mário Mônaco, entre outros.
Sua carreira política iniciou em 1950 quando foi eleito deputado estadual pelo Partido da Representação Popular (PRP). Durante seu mandato, foi presidente da comissão de Obras Públicas, membro da comissão de finanças e líder da bancada. Em 1954, elegeu-se suplente de Deputado Federal, tendo assumido entre março e maio de 1956. Antes disso, em 1955 havia sido eleito Vice-Prefeito de Caxias do Sul, assumindo a Prefeitura nos anos de 1957 e 1958, mesmo ano em que foi eleito senador pelo PRP com o apoio do Partido Trabalhista Brasileiro. Durante seu mandato, participou da Mesa do Senado. Na mesma época, presidiu o diretório regional do PRP no Rio Grande do Sul. Em 1960, participou de viagem de intercâmbio cultural aos Estados Unidos. Durante o bi-partidarismo, implementado no regime militar, ingressou na Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Foi reeleito Senador em 1966, tendo, durante seu mandato, participado de diversas comissões.
Em 1975, foi nomeado Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) pelo Presidente Ernesto Geisel. De 1978 até sua aposentadoria em 1982, presidiu o TCU. Após sua aposentadoria, passou a dedicar-se mais intensamente às artes, realizando várias exposições. Tornou-se membro da Academia Brasileira de Artes e presidente da Associação Rio-grandense de Artes Plásticas. Atuou ainda na área jornalística e literária, sendo fundador e diretor do jornal Querer. Foi membro das academias de letras do Rio Grande do Sul, da Argentina e da Espanha. Além de Plano Contábil para Associações Rurais e Manual de Contabilidade para o agricultor, obras de caráter técnico, publicou, em 1979, “Reminiscências do 4º Distrito de Porto Alegre”, obras de memórias.
Por ocasião de sua morte, a Zero Hora publicou: “Aos 88 anos, morreu sábado, em Brasília, o ex-Senador Guido Mondin, que também se destacou no cenário nacional por sua dedicação às artes. Homem afável, culto, integrador, foi decisivo em importantes alianças com adversários políticos, como ocorreu em 1958 entre o Partido de Representação Popular, o seu PRP, de origem integralistas, de direita, e o PTB, situado à esquerda. Concorreu a prefeito de Caxias na primeira eleição depois da redemocratização, elegeu-se deputado estadual em 1950, foi o primeiro suplente de federal em 1954, assumindo na Câmara, foi Vice-Prefeito de Ruben Bento Alves, do PTB, em Caxias do Sul em 1955, antecipando uma aliança que ocorreria três anos depois em nível estadual. Junto com Alberto Hoffmann, eleito deputado federal, Mondin foi decisivo na eleição de Leonel Brizola para governador em 1958. Na aliança, conquistou uma cadeira no Senado, sendo reeleito pela Arena em 1966, numa seqüência de dois mandatos. Aposentou-se como ministro do Tribunal de Contas da União.
Mestre da pintura, doou à Assembléia Legislativa uma série sobre a Revolução Farroupilha. Outro destaque em sua obra é a Via sacra – as 14 estações estão pintadas na Igreja São Geraldo, seu bairro, onde uma rua leva o nome de seu pai, também Guido Mondin.”
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Senador Guido Mondin morre em Brasília
O político, pintor e escritor foi vítima de parada cardiorrespiratória
Zero Hora, 22 de maio de 2000 (Klécio Santos – Sucursal/Brasília)
O ex-senador Guido Fernando Mondin, 88 anos, morreu sábado em Brasília, onde residia desde a fundação da cidade, em conseqüência de uma parada cardiorrespiratória.
Mestre da pintura, uma paixão permanente desde que deixou a política em 1974, após dois mandatos no Senado, o economista e industrial Mondin foi enterrado ontem às 17h no cemitério Campo da Esperança.
O primeiro mandato de Mondin no Senado foi conquistado em 1958, na coligação do PRP (Partido de Representação Popular) com o PTB, de Leonel Brizola. Em 1966, se reelegeu pela ARENA, ocupando a cadeira de senador até 1975, quando passou a cadeira para Paulo Brossard. Ao deixar o Senado, exerceu o cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), sendo presidente em 1978. Natural de Porto Alegre, Mondin começou sua carreira política em 1948, como suplente de deputado estadual. Três anos depois conquistou uma cadeira na Assembléia Legislativa. Em 1955, foi Vice-Prefeiro de Caxias do Sul, antes ainda de começar a carreira vitoriosa no Senado.
Ao lado da política, realizava sua vocação de artista pintor, que despertou pela primeira vez aos seis anos de idade. Ainda guri, Mondin pediu à tia que estendia roupa no quintal:
-Fique quieta, que eu vou fazer seu retrato - disse, desenhando com carvão numa tábua velha.
Um ano depois, esteve pela primeira vez em um salão de pintura. Da infância pobre, herdou o gosto por retratar as mazelas sociais da vida brasileira, enaltecendo com retratos a figura do candango.
- A paisagem urbana não me atrai. As cidades-satélites, no entanto, oferecem temas e ricas sugestões como o drama desta gente humilde que veio para Brasília cheia de fé e esperança – costumava afirmar.
Além da pintura, Mondin se dedicou à literatura e à poesia, escrevendo várias obras
Além de Brasília, Mondin, nas suas telas, dava preferência aos temas do Rio Grande do Sul, em especial as paisagens campeiras. Sua paixão era tanta pela pintura, que mesmo depois de sofrer um derrame, que imobilizou seu lado direito, não desistiu. Passou a pintar seus quadros com a mão esquerda e costumava brincar com a situação.
- Acho que foi castigo eu, que sempre fui da direita, pintar com a mão esquerda – lascou certa vez o pintor, que tinha como seu modelo preferido Bolinha, seu cão de estimação.
Mas nem só de política e da pintura vivia Mondin. O ex-senador sempre esteve também ligado à literatura. Escreveu, entre outras obras, A Lenda do Lago, que em l996 foi tema de um balé encenado no Teatro Dulcina, em Brasília. Mondin também se orgulhava de ter fundado a Estância Gaúcha do Planalto com um grupo de amigos. Viúvo de Wera Gentz Mondin, o ex-senador teve dois filhos, Talita e Tito.”
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Guido Mondin – O Nosso Adeus
Jornal Tradição, de F. Pinto Fernandes
“Uma semana sem Guido Mondin. A saudade bate forte encurralando lembranças. São aproximadamente vinte anos de convivência pealando nos campos da tradição. Aqui viverei recuerdos do gaúcho rico em Rio Grande.
Guido Mondin durante sua vida deu exemplo da força de terra que emana dos campos pampeanos. Como o charrua, cavalgou liberto, a liberdade dos campos infinitos da querência verdejante. Descansou à sombra de figueiras. Bebeu leite de apojo na mangueira da vida. Na sombra das restingas da inspiração retratou a nossa terra de maneira única. Sua pintura cheira capim molhado de chuva. Minuano soprando. Vento de primavera. Calmaria de outono. Suor de pingo. Gadaria pastando. Bandeiras tricolor. Cargas de cavalaria em lances de guerra. Retrata o guasca abichornado oitavado num balcão de um bolicho de encruzilhada. No Rodeio dos Tempos é a história de nossa evolução sobressaindo imponente. É o Rio Grande puro, magestoso e belo que de seus pincéis nasce imortalizado da força férrea de amor do taura artista pela Capitania.
Galopando por outras invernadas, em textos recheados de gauchismo vamos encontrar Guido Mondin proseando com gosto de gajeta. Em poemas canta em versos a magia sulina da masculinidade entreverada de ternura. Na tribuna a fala livre do orador nato, em ecos de pago conta belezas.
O artista, o poeta, o escritor não fica na soga da arte. Usa-a no espalhar da amizade. Na franquia dos gestos é o gaúcho de todas as eras distribuindo regalos de estima e camaradagem. Na simplicidade dos capazes não tem baldas. É o amigo de todas as horas, de todos os momentos.”
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Guido Mondin e Caxias do Sul
Militante do Partido de Representação Popular (PRP), não estava em seus planos o exercício de cargos eletivos, mas apenas a militança partidária, a seu ver obrigação fundamental de cada cidadão. Não obstante, o Partido candidatou-se à Constituinte de 1946. Nada logrou, como não lograria eleger-se, logo após à Assembléia Legislativa. Nas primeiras eleições municipais, embora natural de Porto Alegre, Caxias do Sul viria buscar Guido Mondin como candidato à Prefeitura. Desenvolveu então memorável campanha na qual usou todos os recursos de sua imaginação, a que não faltaram a utilização de alto-falantes em aviões teco-teco, cinema de caricaturas pela parede dos edifícios, comícios ambulantes em que o candidato fazia-se seguir por dezenas de viaturas em grande mobilidade e programas de rádio de grande singularidade e receptividade. Perdeu, porém, embora por insignificante margem de votos.
Com marcada atuação, contudo não quis mais prosseguir na Assembléia para voltar à sua atividade particular. Na Assembléia, porém, liderara a Bancada e presidira as Comissões de Agricultura e de Obras Públicas, e o seu Partido exigia que, pelo menos, emprestasse seu nome para a chapa federal nas eleições seguintes. Colocou-se como primeiro suplente e assim pode retornar à ação privada.
Tanto para resolver um problema circunstancial de interesse público, a indicação foi aceita, mas Guido Mondin renunciaria a seguir, já havia iniciado a instalação de uma indústria em Caxias do Sul.
Em plena atividade industrial, uma coligação partidária viria a solicitar a sua colaboração agora candidatando-se a Vice-Prefeito.
Essa nova incumbência não interferiria em quase nada com a atividade que empreendera. A eleição foi consagrada. Por duas vezes, Guido Mondin assumiu a direção do município, levando aquele mesmo espírito de iniciativa que anunciara quando candidato à Prefeitura, anos antes.
Não tardou, porém a ser convocado para assumir seu posto a Câmara dos Deputados, como 1º Suplente que era. Deixando-a meses após, com a reassunção do titular. Guido Mondin não mais voltou à sua indústria, assumindo a Diretoria de uma empresa de construções.
O Livro “Guido Mondin na Academia Brasileira de Arte”, reproduz o discurso de recepção ao artista, proferido por Antônio Garcia de Miranda Netto. Interessante destacar a visão do orador sobre o gaúcho Guido Mondin: “Haverá dois anos, voltava eu, mais uma vez, ao nosso Rio Grande. Confesso que é sempre mais forte a emoção que me invade cada vez que o automóvel entra na estrada caprichosa que vai bordando o vale do Rio das Antas. As verdes encostas se fazem mais verdes e as manchas dos pinheirais, densas e escuras, contrastam com a clara luminosidade dos vinhedos, líquida esmeralda que brilha ao sol. Estamos chegando a Caxias, cidade tão do meu coração, onde há um século meu bisavô, tirolês, ao lado de dois companheiros vênetos abre a primeira clareira, levanta a primeira casa de troncos e cultiva a primeira rosa.
Recordo tudo isso porque foi em Caxias que, depois de breve atividade industrial, começastes a ouvir os cantos de sereia da política. Candidato à prefeitura, não poderia o artista, dono da ironia tão goldoniana, fazer campanha igual às outras. Aventura clamorosa e intolerável para os hábitos conservadores foram os quatro meses de vossa propaganda eleitoral. Fostes derrotado por meio dúzia de votos, mas até hoje são lembrados os episódios dessa jornada romântica a que não faltaram a novidade de teco-teco com alto-falante, nem a inédita projeção de caricaturas nas paredes dos edifícios, tortura dos que vos disputavam os votos. Em poderosa e mútua catálise, dialética arte foram mobilizadas para a vitória política.
Mas ‘ninguém passa impunemente por baixo das palmeiras’ – dizia Lessing. Principalmente quando há inveja e frustração. Ouvistes, de adversários, ameaças de morte, logo transformadas em enterro simbólico, porque lhes faltava ânimo de transformar em ato o desejo de vos eliminar corporalmente.
...Não poderíeis desmentir uma herança milenária: sois descendente de vênetos, raça diferente, que já enchia os gregos de admiração. Recebem a herança bizantina e a transformam na glória de Ticiano e Tintoretto. No século passado vêm trazer às serras do nosso Rio Grande o claro falar e o musical acento do dialeto de Goldono e Gozzi. Não só a língua vem com eles, mas as delícias de uma cozinha requintada e a arte - tão antiga – de transformar o escuro mosto que fermenta nos lagares no rubi escoro do Cabernet, com gosto de herva, no topazio sêco do Sauvignon ou na clara transparência do Riesling, que do Tirol traz o aroma das violetas e das framboesas maduras. Vênetos, friulanos, tiroleses e trentinos são mestres na requintada arte de bem comer e melhor beber. Talvez isso explique a maravilhosa escola de pintura do norte da Itália e, quem sabe, o vosso extremado amor pela arte. Estou convencido de que há uma correlação perfeita entre a boa mesa e a boa pintura.”